Essa é uma das primeiras perguntas que faço aos meus clientes cirurgiões-dentistas quando inicio o meu trabalho de consultoria.
A minha intenção não é saber o quanto o profissional leva para casa, mas sim identificar se ele tem a preocupação (e disciplina) em fazer uma retirada fixa todo mês. Retirada essa que não corresponda ao lucro de seu consultório.
Primeiramente, vamos definir o que é o pró-labore. O pró-labore é o salário do dentista. É a retirada mensal que o profissional tem direito, sendo ele o proprietário da clínica. Isso significa que o cirurgião-dentista tem direito a um pagamento, independente do lucro da clínica. É como se ele fosse o empregado da sua própria empresa.
E por que é importante ter esse pró-labore? Para que a clínica comece a ser gerenciada de forma profissional, desvinculando o dinheiro da clínica do dinheiro do proprietário. Aliás, esse é um dos principais motivos do fracasso dos empreendimentos: misturar o dinheiro da empresa com o dinheiro do empresário.
Errado está o dentista que se apropria de todo o lucro da clínica ao final do mês. O lucro deve permanecer no caixa da clínica, como uma reserva ou capital de giro. Periodicamente o profissional pode, como dono do negócio, fazer retiradas de parte dessa “sobra” – semestralmente ou anualmente – o que chamamos de retirada de lucros ou distribuição de lucros.
Não caia na tentação (e no erro) de fazer retiradas esporádicas de dinheiro do caixa para pagar a conta de energia da sua casa, abastecer o seu veículo ou comprar o pãozinho no final da tarde. Para isso é que você tem o seu pró-labore.
Como eu havia comentado anteriormente, um dos grandes motivos do fracasso financeiro de muitos consultórios odontológicos reside exatamente na não separação das finanças do dentista e das finanças do consultório. Infelizmente, existem profissionais que “embolsam” todo o lucro do consultório, acreditando ser esse o seu pró-labore. Um grande e perigoso erro!
Ao se apropriar de todo o resultado financeiro do seu negócio, você descapitaliza o seu consultório e corre o risco de não contar com os recursos necessários para uma emergência. Isso porque, muito provavelmente, aquele montante que deveria estar no caixa e que foi para a sua conta particular já foi destinado a outros investimentos pessoais. De nada adiante um cirurgião-dentista rico e um consultório depreciado e sem recursos.
Você tem dúvidas de como iniciar esse procedimento? É mais simples do que se imagina. Mas ter disciplina e organização é fundamental.
Primeiro ato: é imprescindível que a sua clínica/consultório tenha uma conta corrente. Isso permite um melhor controle financeiro, pois toda a receita que entra irá direto para essa conta.
Segundo ato: defina o valor do seu salário. Estabeleça o quanto quer (e precisa) ganhar por mês. Esse valor deve suprir as suas despesas familiares, e ainda lhe propiciar conforto, lazer e segurança. Aqui é importante considerar duas variáveis: o quanto você quer ganhar e o quando a sua clínica pode lhe pagar.
Terceiro ato: defina a data que fará a retirada do seu pró-labore. Para isso, é importante que você observe o seu fluxo de caixa (entradas e saídas de dinheiro). Costumamos dividir o mês em duas quinzenas. É muito comum a clínica enfrentar uma quinzena onde predomine as entradas e outra que predomine as saídas. Sendo assim, identifique qual o melhor período para fazer a retirada do seu salário, sem comprometer a capacidade de pagamento do seu negócio. Se necessário, o dentista poderá fazer duas retiradas, sendo metade em cada quinzena.
Quarto ato: você deve considerar o seu pró-labore como um custo fixo mensal, assim como os salários de seus funcionários, despesas de água, energia elétrica, aluguel, entre outros. Quando o seu pró-labore passa a se incorporar nos custos, ele passa a ser considerado no custo da hora-clínica do seu consultório e com isso, quem paga o seu salário é o seu paciente, e não o seu consultório. Isso faz toda a diferença.
Quinto ato: O seu pró-labore poderá sofrer ajustes anuais, de acordo com a melhora nos resultados financeiros da sua clínica. À medida que a lucratividade do seu negócio aumentar, você até pode aumentar um pouco o seu salário. Mas, como todo funcionário, isso deve acontecer apenas uma vez por ano.
O pró-labore pode parecer sem sentido para alguns profissionais, mas como comentei, é imprescindível para quem quer transformar a gestão do seu negócio. Basta organização financeira e disciplina!