A maior ferramenta em Medicina Periodontal

O termo Medicina Periodontal nasceu em 1996. Foi a primeira vez que um autor, Steven Offenbacher, escreveu sobre o assunto, afirmando que a evolução nos estudos sobre as relações entre periodonto e corpo estava nos conduzindo a uma nova era em Medicina Periodontal. Medicina Periodontal é um termo amplo que define uma subárea da Periodontia.

 

Surgiu a partir da riqueza de estudos que demonstravam que a periodontite, além de desencadear os conhecidos desfechos orais, impactava sistemicamente o indivíduo. Passou então a se disseminar a ideia de relação de mão dupla na qual a periodontite em um indivíduo poderia exercer uma influência poderosa do ponto de vista “sistêmico”, além da ideia mais conhecida de que doenças pelo corpo poderiam influenciar o periodonto.

 

Steven Offenbacher, na mesma publicação, afirmou que “esses novos dados transferem dramaticamente as doenças periodontais para o interior da medicina, fato que provavelmente terá profundas implicações em nossa profissão”. A partir dessa colocação, até hoje, vinte e três anos se passaram. Milhares de pesquisas conduzidas, muitas delas demonstrando associações até então inimagináveis entre a periodontite e algumas doenças. E o assunto cresce a cada dia. Mais e mais evidências são apresentadas e novas associações são discutidas.

 

Se as doenças periodontais estão intimamente relacionadas a doenças em todo o corpo, então nós, cirurgiões-dentistas, assumimos um papel fundamental para a SAÚDE. E não para a saúde bucal, como se fosse possível tratar saúde bucal e geral de forma separada… Saúde é saúde.

 

Os documentos da Classificação mais atual (2017) das Doenças Periodontais (Academia Americana de Periodontologia e Federação Européia de Periodontologia) apontam para a robustez de evidências confirmando que bactérias orais específicas na bolsa periodontal podem obter acesso à corrente sanguínea através do epitélio ulcerado da bolsa. E que mediadores inflamatórios do periodonto podem entrar na corrente sanguínea e ativar proteínas da fase aguda do fígado, como a proteína C reativa, que amplificam ainda mais os níveis de inflamação sistêmica. A periodontite também contribui para a carga inflamatória geral do indivíduo, que está fortemente implicada em doenças como a doença arterial coronariana, o acidente vascular cerebral e o diabetes tipo II.

 

Dada a relevância do tema Medicina Periodontal, eu convido os colegas cirurgiões-dentistas e acadêmicos de Odontologia a uma reflexão. Se assumimos ou desejamos assumir toda a importância que temos para a saúde, então nos tornamos ou deveríamos nos tornar ainda mais responsáveis e impelidos a avaliar o periodonto de nossos pacientes. Rotineiramente… ou apenas eventualmente?

 

Quando temos indicado ou realizado o exame periodontal? Somente quando há sinais e sintomas “gritantes” da doença? Ou realizamos a sondagem periodontal rotineiramente em nossos pacientes, entendendo que o papel desse exame se relaciona à prevenção também?

 

Vamos além. E nós profissionais, como está nosso exame periodontal completo? Em dia? Ou cuidamos tanto dos outros que esquecemos de nossa própria saúde? Todos os pacientes que estão sob sua supervisão hoje, recebem pelo menos um exame periodontal completo anual? Você saberia dizer qual o diagnóstico periodontal (atualizado segundo a última classificação – 2017) de todos os pacientes que estão sob seus cuidados? E o seu próprio diagnóstico periodontal? E os que já estiveram sob seus cuidados? Você os chama para serem reavaliados? Do ponto de vista periodontal inclusive? Exame periodontal completo (sondagem) + diagnóstico periodontal (no mínimo anuais) são uma rotina em sua prática?

 

Antes de mais nada, ao abordar o assunto Medicina Periodontal, minha preocupação é essa. Trazer a reflexão sobre se estamos dando a devida importância a essa ferramenta que temos à nossa disposição, a sondagem periodontal, que nos permitirá definir qual o risco de nossos pacientes do ponto de vista “sistêmico”, do ponto de vista de saúde periodontal, bucal, geral, sistêmica, afinal saúde é saúde, não é mesmo?

 

Portanto, o exame periodontal completo seguido do diagnóstico periodontal, são fundamentais, e o primeiro passo para podermos de fato nos relacionar com essa área tão incrível e apaixonante da Odontologia, e da Periodontia, que é a Medicina Periodontal.

 

Mariana Fogacci
Profa. Adjunta Periodontia (Universidade Federal de Pernambuco – UFPE)
Integrante do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) MEC/INEP – BASis
Pós-Doutorado em Saúde e Ambiente (UNIR)
Doutora e Mestre em Periodontia (UFRJ)
Especialista em Periodontia (FOB-USP)
Especialista em Prótese Dentária (UFRJ)
Habilitação em Laserterapia (USP)
Graduada em Odontologia (UFRJ)
Membro da Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRAPE)
E-mail: mari.fogacci@gmail.com
IG: @marianafogacci