Afinal, meu paciente tem ou não tem periodontite?

Entender que a periodontite, além do impacto negativo local ao periodonto, pode impactar sistemicamente um indivíduo, é a base da compreensão da Medicina Periodontal. Nesse contexto, é fundamental compreender quando estamos diante de um caso clínico de periodontite.

 

Portanto, o objetivo da coluna de hoje é apresentar como chegar a esse diagnóstico e definir se estamos diante de um paciente com ou sem periodontite. Segundo a Classificação mais atual (2017) das Doenças Periodontais (Academia Americana de Periodontologia e Federação Europeia de Periodontologia) “a PERIODONTITE é caracterizada como uma inflamação mediada pelo hospedeiro, associada a microbiota, que resulta em perda de inserção periodontal.”

 

No contexto da prática clínica, um caso será diagnosticado como periodontite se:

– houver perda de inserção interproximal detectável em no mínimo dois dentes não adjacentes, ou

– houver perda de inserção em faces livres ≥ 3 milímetros, associada à profundidade de bolsa > 3 milímetros detectável em no mínimo dois dentes

 

Uma observação: nos dois casos possíveis acima, a perda de inserção não poderá ser decorrente de causas não periodontais, como a) recessão gengival de origem traumática; b) lesões de cárie que se estendem na área cervical do dente; c) presença de perda de inserção na face distal de um segundo molar e associada à má posição ou à exodontia de um terceiro molar; d) lesão endodôntica drenando através do periodonto marginal; e) a ocorrência de uma fratura vertical da raiz.

 

A chave para a definição do caso da periodontite é a noção de perda de inserção “detectável”. Com a sonda periodontal, precisa ser possível detectar que houve perda dos tecidos de inserção, apicalmente à junção cemento-esmalte (JCE) ou em casos mais avançados, ser possível detectar direta e visualmente a JCE interdental durante o exame.

 

A nova classificação reconhece que essa perda interdental “detectável” pode variar com base nas habilidades do operador (por exemplo, especialista ou clínico geral) e nas condições locais que podem facilitar ou prejudicar a detecção da JCE, principalmente a posição da margem gengival em relação a JCE, a presença de cálculo ou margens restauradoras.

 

Aqui, vale acrescentar que a qualidade do instrumento, da sonda periodontal milimetrada, sabidamente pode influenciar na correta detecção da perda de inserção. A partir da detecção de periodontite, a doença ainda deverá ser classificada de acordo com os parâmetros estágio, extensão e grau. Entretanto, isso envolve maior complexidade e poderá ser assunto para um futuro post.

 

Portanto, ao avaliar o periodonto de nossos pacientes, entender como se define atualmente um caso de periodontite, saber diagnosticar, é fundamental. Assim, poderemos, a partir da sondagem periodontal, diagnosticar os pacientes que estão sob nossos cuidados em nossa rotina. Afinal, em Medicina Periodontal, a sondagem periodontal é a maior ferramenta que possuímos.

 

Quando estivermos diante de um caso de periodontite, poderemos então alertar aos pacientes com esse diagnóstico, que estão sob maior risco de impacto sistêmico, para além dos efeitos locais da doença.

Mariana Fogacci
Profa. Adjunta Periodontia (Universidade Federal de Pernambuco – UFPE)
Integrante do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) MEC/INEP – BASis
Pós-Doutorado em Saúde e Ambiente (UNIR)
Doutora e Mestre em Periodontia (UFRJ)
Especialista em Periodontia (FOB-USP)
Especialista em Prótese Dentária (UFRJ)
Habilitação em Laserterapia (USP)
Graduada em Odontologia (UFRJ)
Membro da Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRAPE)
E-mail: mari.fogacci@gmail.com
IG: @marianafogacci