Associação entre Periodontite e Doenças Cardiovasculares: novas diretrizes internacionais

O consenso sobre Medicina Periodontal publicado pelas Academia Americana de Periodontologia e Federação Européia de Periodontologia (2012), teve por objetivo revisar a literatura e apresentar recomendações aos profissionais de saúde, no contexto da associação entre periodontite e outras doenças.

 

Recentemente, esse Consenso foi atualizado, no que tange a relação entre periodontite e doenças cardiovasculares, e teve sua versão revisada publicada este ano (2020).

 

Principais Temas do Consenso

 

O Consenso tem sete eixos principais: Dados alarmantes; Epidemiologia; Plausibilidade biológica; Estudos sobre tratamento periodontal; Complicações do tratamento periodontal; Recomendações e Terapia antitrombótica.

 

Decidi ajudar a atualizar os leitores do blog e, a partir da leitura de todo o Consenso, trazer uma série de posts sobre cada um dos principais eixos.

 

Hoje começamos com o primeiro post da série, apresentando os principais dados sobre a relação entre periodontite e doenças cardiovasculares.

 

Abordando o eixo 1: Dados que impressionam

 

A periodontite, assim como as doenças cardiovasculares (nome que engloba doenças coronarianas, cerebrovasculares e arteriais periféricas) são classificadas como doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).

 

As DCNT estão aumentando em todo o mundo, alinhadas com envelhecimento da população, aumento do consumo de alimentos refinados e estilo de vida sedentário. Essas doenças respondem por 41 milhões de mortes por ano, pasmem, 71% de todas as mortes globais.

 

Aproximadamente 80% das pessoas com mais de 65 anos de idade nos Estados Unidos são afetadas por uma ou mais DCNT e 77% exibem pelo menos duas DCNT, criando uma carga significativa de doença para os indivíduos. Além de prejudicial ao indivíduo e à sua comunidade, impacta o sistema de saúde e onera a economia.

 

As doenças cardiovasculares representam a maior carga global de DCNT, sendo responsáveis por 17,9 milhões de mortes (um terço da mortalidade geral e 45% da mortalidade induzida por DCNT).

 

A periodontite também é uma DCNT que afeta de 45% a 50% de indivíduos, no total, com sua forma mais grave afetando 11,2% da população mundial, sendo a sexta doença humana mais comum.

 

Atualmente, as evidências apontam para associações independentes entre periodontite e várias DCNT, incluindo diabetes, doenças cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica e doença renal crônica.

 

De fato, a periodontite está associada à mortalidade por todas as causas, inclusive por doenças cardiovasculares, em todo o mundo. Os mecanismos propostos incluem bacteremia e as sequelas inflamatórias sistêmicas associadas, como elevações na proteína C reativa e estresse oxidativo. A conclusão, portanto, é que a periodontite pode ser um fator de risco não tradicional modificável para doenças cardiovasculares.

 

Dessa forma, é fundamental que os Cirugiões-dentistas se atentem para a importância do diagnóstico periodontal e consequente adequado tratamento da periodontite, a fim de, com isso, auxiliar na redução de morbidades e mortalidades associadas a DCNT.

 

Mariana Fogacci
Profa. Adjunta Periodontia (Universidade Federal de Pernambuco – UFPE)
Integrante do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) MEC/INEP – BASis
Pós-Doutorado em Saúde e Ambiente (UNIR)
Doutora e Mestre em Periodontia (UFRJ)
Especialista em Periodontia (FOB-USP)
Especialista em Prótese Dentária (UFRJ)
Habilitação em Laserterapia (USP)
Graduada em Odontologia (UFRJ)
Membro da Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRAPE)
E-mail: mari.fogacci@gmail.com
IG: @marianafogacci