Endodontia X Implantodontia

No exercício diário da clinica odontologia diversas vezes nos deparamos com as seguintes dúvidas: Será que deveríamos manter este elemento? Seria, porventura, o tratamento com implantes mais previsível do que o tratamento ou retratamento endodôntico? Deveríamos fazer um retentor intra-radicular e manter esta raiz ou seria mais prudente extrair e substituir por um implante?

 

Enfim, manter ou não manter…? Eis a questão.

 

Muitas das vezes achamos que a endodontia e a implantodontia estão brigando entre si, mas seria esse o caso? Muitos profissionais trazem em seu entendimento porcentagens de sobrevivência e sucesso de implantes dentais, e baseado nestes dados decidem pela exodontia em casos onde o mais adequado seria uma intervenção endodôntica.

 

Primeiro temos que ter em mente que não podemos comparar bananas com maçãs. Precisamos diferenciar sucesso de sobrevivência. Os critérios de sucesso em endodontia já foram descritos por Strindberg (1956) e consistem em:

  • Ausência de sintomas;
  • Ausência de lesão periapical.

 

Portanto, a análise de sucesso em endodontia se mostra um tanto linear sem maiores dificuldades de interpretação. Já em implantodontia os critérios de sucesso foram descritos por Albretkson (1986) e consistem em:

  • Ausência de sintomas;
  • Ausência de mobilidade;
  • Ausência de radiolucidez ao redor dos implantes;
  • Perda óssea menor que 0.2mm ao ano;
  • Ausência de sinais de infecção;
  • Ausência de neuropatias.

 

Com o desenvolvimento da especialidade novos desafios estéticos foram surgindo, o que demandou uma revisitação destes critérios. Por isso, a Academia de Osseointegração no consenso de 2010 postulou que o sucesso em implantodontia não é somente o alcance do objetivo terapêutico, mas a manutenção de um dente estável, funcional e esteticamente aceitável para o paciente.(Academy of Osseointegration, 2010).

 

A diferenciação e o contraste entre as especialidades passa pela diferente interpretação dos estudos que avaliam sucesso dos tratamentos. Precisamos considerar que muitos estudos (Selehrabi & Rosntein 2004; Pjertursson 2007) que avaliam o sucesso de tratamentos endodônticos foram feitos em ambientes de graduação ou os tratamentos foram realizados por clínicos, já grande parte dos estudos que apontam altas taxas de sucesso em implantodontia foram feitos por especialistas, ou em cursos de pós-graduação (Coachran 2011).

 

Quando pensamos no aspecto sobrevivência, isto nos leva a considerar que alguns dentes com tratamentos endodônticos não satisfatórios se mantém por anos em função conservando consigo o dente bem como os tecidos periodontais. Já os implantes dentais que estão sobrevivendo apesar das falhas nos critérios de sucesso já representam em si uma perda das estruturas naturais (dente, periodonto e osso).

 

Em tempos de odontologia minimamente invasiva, parece que o termo “Conservador” deve ser cada vez mais utilizado. De acordo com o dicionário a palavra conservador significa “manter em bom estado, guardar, preservar (…)”.

 

Nos próximos artigos abordaremos algumas referências clínicas e radiografias que nos auxiliem em um correto planejamento. Que possamos ser cada vez mais conservadores no real sentido da palavra, aprimorando cada vez mais nossa capacidade diagnóstica para a construção também de tratamentos que se utilizem de critérios científicos que nos apontem para a correta tomada de decisão de quando manter e quando extrair um dente.

 

Prof Marcio Maia
Mestre em odontologia, Especialista em Implantodontia e Endodontia, Pós-graduado em Prótese e Cirurgia Periodontal Avançada.
Instagram: @marciovmaia
Site: www.clinicasorriaodontologia.com.br