O Tratamento Periodontal tem efeitos além do periodonto, impactando todo o corpo?

A importância do correto diagnóstico da periodontite pode ser abordada sob diferentes aspectos. Do ponto de vista do acometimento dos tecidos periodontais, o correto diagnóstico possibilitará a elaboração de plano de tratamento e execução da terapia mais indicada para o caso. Além disso, quanto mais cedo acontecer o diagnóstico, mais rápido acontecerá a intervenção terapêutica que poderá estabilizar a doença.

 

Entretanto, existe outro aspecto fundamental na necessidade do correto diagnóstico da periodontite, que é considerar seu efeito para a saúde. Não saúde bucal, mas saúde! A Medicina Periodontal deixa claro as relações da periodontite com diversas doenças, merecendo maior destaque a doença cardiovascular aterosclerótica e o diabetes. O crescente volume de pesquisas nesse caminho, trouxe algumas evidências que culminaram em investigações sobre os efeitos do tratamento periodontal nessas doenças.

 

O consenso sobre Medicina Periodontal mais recente publicado pelas Academia Americana de Periodontologia e Federação Europeia de Periodontologia estabelece que há evidências suficientes demonstrando o efeito positivo do tratamento periodontal sobre a doença cardiovascular e sobre o diabetes. O tratamento periodontal melhora a função endotelial e diminui os biomarcadores da doença aterosclerótica, especialmente naqueles pacientes que já sofrem da doença cardíaca e / ou de diabetes.

 

Além disso, existem evidências moderadas de que o tratamento periodontal reduz a inflamação sistêmica, como evidenciado pela redução da proteína C reativa e pela melhora da função endotelial. Para o diabetes, a terapia periodontal mecânica pode reduzir aproximadamente 0,4% na hemoglobina glicada em 3 meses, o que seria um impacto clínico equivalente à adição de um segundo medicamento a um regime farmacológico para diabetes.

 

Mais recentemente, uma pesquisa envolvendo mais de 300 mil pacientes apontou que o tratamento da periodontite reduziu o número de internações em cerca de 40% para diabetes e 20% para doença cardiovascular, e os custos com saúde, de cerca de 40% para doenças cardiovasculares e de 10% para diabetes.A classificação atual da Periodontite leva em consideração o parâmetro de concentração de hemoglobina glicada como um fator de risco para a definição do grau de progressão da periodontite. A concentração de proteína C reativa também é um parâmetro considerado na classificação atual para definição do grau de progressão da periodontite.

 

Diante do exposto, fica ainda mais evidente a associação entre a periodontite e outras doenças. O cirurgião-dentista deve cada vez mais se munir dessas evidências para informar seus pacientes e participar cada vez mais ativamente do diagnóstico periodontal, e, portanto, do diagnóstico do estado de saúde de seus pacientes, intervindo quando necessário, e promovendo saúde sempre!

 

Mariana Fogacci
Profa. Adjunta Periodontia (Universidade Federal de Pernambuco – UFPE)
Integrante do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (Sinaes) MEC/INEP – BASis
Pós-Doutorado em Saúde e Ambiente (UNIR)
Doutora e Mestre em Periodontia (UFRJ)
Especialista em Periodontia (FOB-USP)
Especialista em Prótese Dentária (UFRJ)
Habilitação em Laserterapia (USP)
Graduada em Odontologia (UFRJ)
Membro da Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRAPE)
E-mail: mari.fogacci@gmail.com
IG: @marianafogacci