As evidências em estudos populacionais apontam que a incidência de doença cardiovascular aterosclerótica é maior em indivíduos com periodontite e/ou pior estado periodontal, em comparação com indivíduos sem periodontite ou com melhor estado periodontal.
Especificamente, o risco é maior para doença cerebrovascular do que para doença arterial coronariana, e maior em homens e em indivíduos mais jovens.
Não há risco excessivo relatado entre medidas de periodontite e doença arterial coronariana em indivíduos com mais de 65 anos. Esse achado é consistente com os achados relatados em muitos estudos de que a força dos fatores de risco individuais estabelecidos para doença cardiovascular aterosclerótica é mais fraca em adultos mais velhos.
Pacientes com periodontite apresentam maiores contagens de leucócitos, de proteína C reativa e fibrinogênio, indicando um estado mais inflamatório. Meta-análises de ensaios clínicos randomizados chegam a demonstrar uma diferença significativa média de 1,56 mg/L na concentração de proteína C reativa em pacientes com periodontite.
Ainda, a periodontite mais avançada pode significar maior probabilidade de o paciente apresentar maior espessamento das camadas média e íntima da artéria carótida, contribuindo para a obliteração vascular.
Existe uma razão (plausibilidade) biológica para a relação entre Doença Cardiovascular Aterosclerótica e Periodontite?
A infecção oral derivada da periodontite leva à entrada de bactérias (ou seus produtos) na corrente sanguínea (bacteremia).
Quanto pior o quadro periodontal, maior tende a ser a prevalência de bacteremia após procedimentos rotineiros como mastigação, escovação e uso do fio dental.
As bactérias ativam a resposta inflamatória do hospedeiro por vários mecanismos. A resposta imune do hospedeiro favorece a formação de ateroma, a sua maturação e exacerbação.
E o tratamento periodontal tem efeito sobre marcadores de doença cardiovascular?
Há evidências de que o tratamento periodontal pode trazer benefício na redução dos níveis séricos de proteína C reativa, além da melhora da função endotelial e redução de marcadores associados a risco futuro de doenças cardiovasculares, como a interleucina 6 (IL-6) e o LDL.
Quais as principais recomendações para a prática clínica?
Com base nessas evidências, a recomendação do último consenso sobre Medicina Periodontal publicado pelas Academia Americana de Periodontologia e Federação Européia de Periodontologia é que pacientes sejam alertados que a periodontite é um fator de risco para o desenvolvimento de Doença Cardiovascular Aterosclerótica.
E evidentemente, que façamos a nossa parte, realizando sempre o exame periodontal minucioso, em TODOS os pacientes em nossa rotina como cirurgiões-dentistas, para que então possamos diagnosticar os diferentes graus de doenças periodontais e traçar as estratégias mais adequadas de tratamento de acordo com cada caso. Nesse caso, estaremos promovendo saúde bucal, periodontal, geral, sistêmica, enfim, SAÚDE!
Mariana Fogacci
Profa. Adjunta Periodontia (Universidade Federal de Pernambuco – UFPE)
Integrante do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) MEC/INEP – BASis
Pós-Doutorado em Saúde e Ambiente (UNIR)
Doutora e Mestre em Periodontia (UFRJ)
Especialista em Periodontia (FOB-USP)
Especialista em Prótese Dentária (UFRJ)
Habilitação em Laserterapia (USP)
Graduada em Odontologia (UFRJ)
Membro da Sociedade Brasileira de Periodontologia (SOBRAPE)
E-mail: mari.fogacci@gmail.com
IG: @marianafogacci